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Réquiem ao idioma português nas Ondas Curtas

Sua quase extinção nas faixas internacionais de radio difusão em ondas curtas
A Radio Difusão no Contexto da Convergência Tecnológica de Mídias
Possíveis ações para reversão do quadro
Opiniões referentes ao tema, enviados pelo Jornalista Célio Romais - Porto Alegre


Sua quase extinção nas faixas internacionais de radio difusão em ondas curtas

Nosso país, além de continental e adotar o 6. idioma falado no mundo, cada vez mais perde prestígio e importância na programação das transmissões internacionais das grandes emissoras. As que ainda resistem e dedicam programas em português para o Brasil, são a Rádio China Internacional, Rádio Voz da Rússia, a Rádio Japão NHK, Rádio Havana Cuba, Rádio Vaticano, Radio Argentina al Exterior e naturalmente, a Rádio Difusão Portuguesa ( excluindo aqui as emissoras de cunho religioso ). Existem emissoras que transmitem programas em português, mas os direcionam para Portugal e principalmente África, como por exemplo, a Rádio França Internacional e a Deutche Welle da Alemanha.

Aparentemente, a resposta para o término das emissões internacionais em português é a crescente penetração da Internet e TV a cabo e satélite no Brasil, o que tornaria a mídia radiofônica com poucos atrativos. Mas será mesmo somente por este motivo ? Não há como desassociar o rádio à política, em especial, dentro do atual contexto do mundo "globalizado".

Radio Difusão Portuguesa Internacional

Um ótimo exemplo a ser seguido, em todos os aspectos da radiodifusão. É um exemplo de convergência de mídias extremamente responsável, onde as ondas curtas representam um papel fundamental em sua estrutura.

Ao possibilitar acesso às informações através do satélite, das ondas curtas, de emissores em FM, e através da própria Internet ao vivo, obtém-se grande abrangência na comunicação ao mundo em língua portuguesa. Com cobertura mundial, expõe ao mundo a cultura de Portugal, suas interações com o mundo, seus ideais e valores, a todos os continentes.

Aqui no Brasil, foi reativada a Radio Nacional do Brasil, para levar ao mundo através das Ondas Curtas, a cultura do Brasil, seus acontecimentos, enfim, sua mensagem no idioma matter pelas ondas do rádio, à todo o mundo, em especial, ao continente africano e europeu.

A Radio Difusão no Contexto da Convergência Tecnológica de Mídias

Realmente, é fato que a as grandes barreiras de entrada para o uso da Internet residencial estão sendo derrubadas. Inicialmente, para o uso da Internet é necessário um computador, uma linha telefônica e uma assinatura mensal de um provedor de Internet. Com a quebra do monopólio estatal das telecomunicações e o novo modelo regulatório de privatização das incumbentes e abertura para novos entrantes, ocorreu de fato um gigantesco salto na oferta de linhas telefônicas, o que tem contribuído para o aumento exponencial de usuários de Internet. Outra necessidade básica, a aquisição de micro computadores domésticos, tem sido facilitada através do mercado informal de montagem de máquinas, e também, através alguns bem sucedidos programas de financiamento de equipamentos providos em parceria por grandes provedores e grandes bancos.

Com o aumento da demanda por uso de Internet, as empresas de telecomunicações realizaram grandes investimentos em infra estrutura, assim como os provedores ampliaram suas redes para permitir acessos telefônicos mais próximos de seus usuários, aumentando a cobertura, diminuindo o preço final do acesso para o consumidor domestico. Paralelamente, com a convergência das mídias de comunicação, grandes grupos de mídia tradicional construíram grandes redes de TV a cabo, que acabaram integrando acesso a Internet, aumentando ainda mais o numero de usuários da grande rede mundial. Também, com a grande concentração de riqueza que tem se verificado no mercado financeiro, os grandes bancos também desenvolveram infra-estrutura para acesso à Internet, para impulsionar seus negócios e diminuir custos operacionais das agencias de atendimento tradicionais. Esta tendência está tornando cada vez mais necessário o uso da Internet pelos clientes do sistema bancário, sem contar com o próprio sistema super agressivo de recolhimento de impostos através da Receita Federal efetuado maciçamente através da Internet, que afeta diretamente cada vez mais a classe trabalhadora. Outro movimento emergente, é o acesso gratuito à Internet, patrocinado pelas grandes operadoras de telecomunicações, que aumenta a possibilidade de uso da Internet por usuários domésticos.

Com todos estes fatos, seria muito simples concluir que a Internet e a TV a cabo são os responsáveis diretos pela extinção das transmissões de programas em português para o Brasil. Mas se verificarmos que a cada 5 linhas telefônicas, uma é desligada por inadimplência, e que apesar de elevados investimentos em infra-estrutura de TV a cabo o numero de usuários não só estagnou como apresenta tendência a diminuição, e que com a degradação econômica acentuada da nossa sociedade, tende a cada vez mais diminuir o numero de consumidores em potencial, temos que entender o contexto histórico que vivemos e estabelecer os paralelos adequados.

Como fato consumado, temos a queda do bloco Soviético, a reunificação da Alemanha e os novas fronteiras geopolíticas a partir da década de 90. A suposta ausência de contrastes políticos e ideológicos, foi determinante na programação das emissoras internacionais de radio difusão.


Ao lado, duas gerações de rádios de ondas curtas, o Transglobe analógico fabricado na década de 70, e um moderno receptor digital portátil.
Ferramentas simples de usar, representam a mais democrática das mídias, pois as ondas eletromagnéticas do rádio não reconhecem limites geográficos.

Em especial para o Brasil - além dos motivos já amplamente divulgados pelas próprias emissoras internacionais para justificar o encerramento das transmissões - devemos considerar que na última década em especial, após o término dos regimes militares, ocorreu a continuidade da orientação do país para o ordem política e econômica norte-americana. E isto tem impactado diretamente nossa cultura, através da exposição maciça da mídia, de interesses políticos e econômicos, de temas de pouca relevância para nossa sociedade. Isto é infelizmente um fato. A concentração da mídia em poucos grupos, não só os tradicionais nacionais, mas especialmente as internacionais que concentram cada vez mais poder e difusão através de cabo e satélite, limitam o universo cultural, através da padronização de forma de conteúdo, sem levar em consideração as condições sociais locais, onde os programas são assistidos.

Alia-se os interesses estrangeiros no país, a ausência de regulamentação especifica de conteúdo na mídia no Brasil, o alinhamento das políticas econômicas e sociais ( ou ausência destas ) ao neoliberalismo, e temos o ambiente propício ao término da cultura e desenvolvimento do debate necessário de temas relevantes para a sociedade.

E em função disto, o rádio como elemento de integração regional, meio democrático de divulgação de cultura e utilidade publica, se torna obsoleto, relegado a segundo plano, começando pelas grandes emissoras internacionais ocidentais.

Basta comparar a quantidade de horas dedicadas ao Brasil no inicio da década de 90 e hoje. Por isso afirmo o virtual falecimento do idioma português nas ondas curtas. Na realidade, o espanhol atualmente superou e largamente, o espectro das faixas de ondas curtas.

Ou seja, hoje, as poucas emissões internacionais de rádio para o Brasil, estão sendo dominadas também por grupos cujo pano de fundo é religioso. Excluindo a tradicional Rádio Vaticano que representa um nação e apresenta programação eclética e erudita, a proliferação de emissoras religiosas transmitindo em português, é "curiosamente" estabelecida marcadamente nos Estados Unidos, o arauto do neoliberalimo e da "democracia" referencial para o mundo.

Há de se concordar que rádio não é só cultura e informação, e muito menos, somente instrumento de propaganda política de ideologias e regimes, mas também, dominação pela anti-cultura e alienação dos valores culturais regionais.

Regionalmente, como não é mais surpresa para ninguém, verificamos o domínio quantitativo absoluto do espectro do rádio tanto em Ondas Médias, Curtas e FM, por seitas religiosas de todas as espécies. Chega-se ao cúmulo de se alocar diversos canais em OM e FM na mesma cidade, para se emitir 24 horas por dia, conteúdo de absoluta irrelevância para o desenvolvimento nacional, salvo o controle das massas, segundo já preconizado por Napoleão no século XIX.

Em paralelo, o poder da mídia se concentra cada vez mais, e criam-se redes de rádio aos moldes das redes de televisão, que simplesmente ignoram os costumes e cultura regionais de nosso país continental, impondo padrões de programação e espaço publicitário uniforme para grandes grupos.

Algumas emissoras de rádio regionais, como a Rádio Aparecida e Canção Nova, apesar de terem orientação fundamentalmente religiosa, representam um importante valor para a sociedade. Não só são orientadas a verdadeira função do rádio - utilidade pública - como a Radio Aparecida em especial já faz parte integrante da história do rádio no Brasil. Para mais referencias a esta importante emissora, acesse a página referente a Programas para Radioescutas.

Possíveis ações para reversão do quadro

A fórmula para revertermos este quadro sombrio, é através da organização da sociedade civil e a formação de opinião adequada, se iniciando com a escolha de governantes comprometidos com o desenvolvimento de nosso país e com as questões culturais e sociais necessárias a construção de uma sociedade mais justa e menos desigual.

Em paralelo, os formadores de opinião deveriam cobrar de seus representantes legais em todos os níveis federal e estadual, ações diretas nas questões regulatórias que se façam necessárias para a manutenção da finalidade do rádio e contenção dos eventuais abusos de ordem econômica e pseudo-religiosa.

Outra ação possível, é a reativação da Rádiobrás nas ondas curtas, não só para divulgar nossa história e cultura para o mundo, como também como fator de integração social no nosso país continental. Seria muito mais efetivo do que impor a todos as emissoras de rádio a transmissão diária da Voz do Brasil.

Outra ação que pode surtir efeito a longo prazo é a conscientização nas escolas sobre a importância do rádio e seu papel como integrador regional.

Em conversa com um jornalista finlandês em visita ao Rio de Janeiro - Sr. Mika - sobre o declínio do rádio em ondas curtas na Europa, cujo cenário é bem particular em função de grandes avanços de outras mídias, uma das ações para se manter viva a chama do rádio é a organização em eventos referentes a educação, de apresentações sobre escuta de rádio para alunos na faixa etária de 15 a 18 anos. Nesta idade, há grande receptividade par novidades e desenvolvimento de idéias e também, ideais.

O sítio do Sr. Mika pode ser acessado em http://www.dxing.info .

Esta aliás é uma questão realmente muito importante, pois se analisarmos a freqüência dos clubes DX existentes, podemos nos atrever a relacionar a questão etária ao hábito da escuta de rádio e a pratica de DX, aos eventos de grande relevância mundial, como a 2. Guerra Mundial, a derrocada do bloco Soviético e eventos regionais de relevância, como o golpe militar no Brasil em meados da década de 60 e o recrudescimento das relações internacionais na época conhecida como "guerra fria".

Por isso, a necessidade de se apresentar a importância histórica do radio às novas gerações, para contra balancear o peso atual da concentração da mídia. E neste caso, há grande importância na participação dos Clubes DX de tradição.

 

Opiniões referentes ao tema, enviados pelo Jornalista Célio Romais - Porto Alegre
( Com os devidos créditos  )

Magaly Prado - Folha de São Paulo

Ondas Curtas, quem ouve?

31/08/2002

Deu tanta repercussão a entrevista que fiz com o jornalista Célio Romais (que aliás só virou jornalista porque era um dexista apaixonado) sobre Ondas Curtas, no jornal Agora, que reproduzo aqui (na íntegra) para quem não leu.

1) O que são ondas curtas?

São faixas de radiodifusão, assim como o AM e o FM. Elas têm características especiais de propagação e, por isso, são utilizadas para emissão a longa distância. As freqüências de ondas curtas são disponibilizadas nos receptores em faixas de metros. Então, temos os 13, 16, 19, 25, 31, 49 e outras faixas. Geralmente, em aparelhos analógicos, elas são indicadas no dial por "OC" ou "SW", que é a abreviação de short wave. Uma freqüência de 9575 kHz, por exemplo, está inserida na faixa de 31 metros. Num receptor digital, basta apenas digitá-la para captar a emissora.

2) Qual a diferença das outras ondas?

Uma emissora de ondas curtas é captada no mundo inteiro. Dependendo de sua potência, pode ser ouvida nas Américas, África e Europa. Ela não precisa de concessão do governo, por exemplo, da Nigéria, para ser ouvida naquele país, o que é exigido em AM. O sinal de FM é limpo, mas limitado, pois vai em sentido reto, diferente das ondas curtas, que bate na ionosfera e retorna, viajando milhares de quilômetros. Então, fica mais fácil usar ondas curtas, que atingem diversos países, de um modo simples e ágil.

3) Como sintonizar ondas curtas?

O primeiro passo é adquirir um bom receptor. Geralmente as lojas de galerias de grandes cidades têm receptores dos mais simples aos de ponta. O ideal seria adquirir um digital. Um excelente receptor custa em torno de setecentos reais. Mas existem os mais simples, que são encontrados por 150 reais.

Além da antena telescópica, os radioescutas usam antena externa. Alguns receptores são vendidos com uma antena de carretel, de 5 metros, que melhoram os sinais das ondas curtas. Com o tempo, o radioescuta iniciante passa a conhecer outras maneiras de melhorar a recepção, principalmente na parte técnica, com a montagem de antenas e filtros para ruídos.

4) Qual o melhor horário para ouvir ondas curtas?

Depende da faixa. Algumas são ouvidas muito bem pela manhã. Outras à tarde e praticamente grande parte delas à noite. A faixa de 13 metros tem excelente propagação durante todo o dia, enquanto que 25 metros alcança grandes distâncias à noite.

5) Quais as dificuldades para se ouvir ondas curtas?

Na minha opinião, são as interferências externas, vindas de outros aparelhos: televisão, lâmpadas fluorescentes e computadores. O ideal seria residir em casa, com espaço para montar uma boa antena e, se possível, longe das interferências. Quem reside em apartamento, como é meu caso, deve esticar um fio de cobre na janela.

6) Quem escuta ondas curtas?

Milhares de pessoas. Em alguns países, 75% da população têm receptores com faixas de ondas curtas, como é o caso da França e Hungria. Sem falar nos países do Terceiro Mundo, como o Brasil. Qual a emissora que pode ser sintonizada no interior do Amazonas ou Pará? Uma de ondas curtas. Emissoras como a Aparecida e Bandeirantes são muito captadas em pequenas cidades da própria Região Sudeste. Afora isso, existe um grupo de pessoas que escutam ondas curtas por hobby. São os dexistas. Vem da sigla DX: "D", de distância e "X", de desconhecido. Um ouvinte de ondas curtas pode chegar facilmente a ser um dexista. O dexista é aquele que não se contenta apenas em ouvir um bom programa. Ele usa meios técnicos e usa cálculos de propagação para ouvir uma estação das Ilhas Salomão e Papua Nova Guiné. Por exemplo, a emissora de Honiara, capital das Ilhas Salomão, pode ser ouvida, no Brasil, no nosso inverno. É que haverá um caminho noturno entre os dois países lá é noite e aqui é manhã. Então, sem a presença do sol há a propagação. O objetivo do dexista é ganhar uma confirmação das emissoras. Ele manda um relatório com dados técnicos e recebe da emissora um cartão, chamado de QSL, que é a confirmação. É o seu troféu. Os dexistas e radioescutas são muito bem informados sobre tudo o que se passa no mundo. Os clubes de dexistas são muito organizados.

No Brasil, temos o DX Clube do Brasil, que conta com excelentes publicações.

7) O que a programação apresentada em emissoras de ondas curtas oferece?

De tudo, desde filatelia até músicas de países completamente desconhecidos do planeta. A Rádio Havana Cuba transmite informações sobre a política mundial, na visão de Fidel Castro. O mesmo ocorre com a Rádio Internacional da China. As duas emitem em língua portuguesa. A Rádio Romênia transmite excelentes programas, também em português, sobre a história, cultura, folclore e cotidiano daquele país. As grandes emissoras sempre noticiam tudo o que ocorre no mundo. É o caso da BBC, Voz da América, Rádio França, entre outras.

Também temos o cotidiano de países como Equador, Peru, Bolívia e do próprio Brasil. Um programa chamado Mundo Solidário, levado ao ar pela Rádio Exterior da Espanha deveria ser ouvido por todos. Ele apresenta informações de organizações humanitárias que lutam por um mundo melhor nos piores lugares do mundo. Na minha opinião, as ondas curtas são mais uma fonte de informação, diferente das que temos: rádios locais, jornais e televisões. Tais veículos, muitas vezes, apresentam uma notícia que teve como fonte ou intermediário os Estados Unidos. Então, nada melhor do que ouvir uma rádio direta da fonte, de países como o Irã e China. A palavra "jihad" é traduzida no Ocidente como "guerra santa", mas de acordo com o ensinamento islâmico significa "esforço" ou "empenho". Eis a diferença.

8) Quais os programas que você indicaria para o novo ouvinte de ondas curtas?

O Mundo Solidário, da Rádio Exterior de Espanha, é apresentado, todos os dias às 23h, em 9620 e 15190 kHz. Para saber mais das ondas curtas, indico o Altas Ondas, irradiado nas sextas e sábado às 13h, pela Rádio Voz Cristã, em 21500 kHz. Há, também, o DX HCJB, pela Voz dos Andes, nos sábados às 22h, em 11920 e 12020 kHz. Eu colaboro com os dois programas, enviando notícias. Ou, indico simplesmente ligar o rádio em ondas curtas e descortinar um novo universo a ser explorado.


80 ANOS DE RÁDIO
Espaço para púlpito e palanque

Mozahir Salomão (*)

O rádio no Brasil completa 80 anos com muitas indefinições, desafios de sobrevivência econômica e tendo que recolocar-se em uma sociedade onde já se destaca uma super oferta de informação imediata e de fácil acessibilidade . Por outro lado, é incrível como a mídia radiofônica parece ainda liderar a paixão do público. É certo que, historicamente, o amor pelo rádio não garantiu a permanência da audiência e a manutenção do nível de participação do bolo publicitário. A despeito disso tudo, o rádio se vê às voltas com nossas possibilidades no campo técnico da transmissão digital, tem se valido muito dos satélites e já busca caminhos na web.

Os dados mais recentes do negócio rádio têm gerado mundialmente um certo otimismo pelo menos pelo fato de que o rádio parou de empobrecer. Está longe, no entanto, de voltar aos ótimos tempos de ser dono de 60% dos recursos publicitários disponíveis no Brasil. Da década de 60 para cá, o rádio enfrentou praticamente 40 anos de seguidas crises. O surgimento da televisão na década de 50 e seu fortalecimento na década de 60, acompanhados do regime de exceção política que inibiu o improviso, uma das principais características dessa mídia, impuseram ao rádio brasileiro perdas importantes e descontinuidades que até hoje têm reflexo quando analisamos o rádio como meio de comunicação de massa.

A Freqüência Modulada (FM) resgatou para o rádio na década de 70 um público importante: ouvintes jovens que – com raras exceções de poucas emissoras – não se sentiam lembrados e atendidos nas suas preferências musicais e estilo de programação. O que parecia ser para o rádio uma grande oportunidade de recuperação acabou por transformar-se em um processo de verdadeiro seqüestro da autonomia dessas novas emissoras. As contratações e acordos que as emissoras de rádio fizeram com as gravadoras internacionais e algumas nacionais colocassem as rádios como reféns das determinações da indústria fonográfica. Um processo verticalizado que ia desde a faixa que deveria ser mais tocada (música de trabalho) até a presença desses discos nas lojas.

Seria menos dramático se não houvesse por trás de tudo isso uma política absurda com que no Brasil se fez a concessão pública dos canais de rádio AM e FM. Moeda de troca política nas mãos do presidente da República, os canais de rádio serviram para garantir prorrogação de mandato presidencial e aprovação de tantos outros projetos de interesse do Executivo. Os deputados federais e senadores ganharam muitas, muitas emissoras de rádio. Mesmo hoje, se em dia de plenário cheio no Congresso alguém pegar o microfone e perguntar quem tem emissora de rádio e TV, muitos parlamentares levantariam a mão.

Torcida pelo AM

Pode parecer brincadeira. Mas não é. Das questões citadas até agora, o perfil do concessionário mostra-se a mais grave. As concessões de rádio no Brasil estão concentradas nas mãos de políticos e igrejas. Os primeiros, com a facilidade de consegui-las politicamente. Os outros, com a facilidade de comprá-las a peso de ouro. A falta de gente do ramo (verdadeiros empresários de comunicação) faz com que o negócio seja menos competitivo. O dial do brasileiro virou espaço dos púlpitos e palanques eletrônicos. A comunicação radiofônica perde em qualidade, em seriedade e compromisso com os verdadeiros papéis e funções que o rádio deveria estar cumprindo. .

A Anatel – incansável vigilante das rádios comunitárias – se descuida de coisas graves no setor das rádios ditas legais, comerciais. A venda de canais educativos, por exemplo, é um absurdo que explode no espaço eletromagnético. De onde falo, Belo Horizonte, há um canal de AM desativado há anos. E ninguém fala nada. Outro exemplo: por que não se consegue fazer nada contra o descumprimento da determinação de que parte da programação seja destinada ao jornalismo e à prestação de serviço?

É uma pauta de questões para a sociedade discutir com urgência. Questões sobre as quais o Conselho de Comunicação Social deve deter-se verdadeiramente. O lobby dos empresários de comunicação é fortíssimo, mas não tem sido inteligente o bastante para perceber que o inimigo não é exatamente o responsável pela transmissão artesanal e comunitária (apesar, de, reconhecidamente, haver alguns casos de abusos e concorrência desleal).

Quem prejudica e coloca em risco o rádio no Brasil é quem desvirtua o papel e o sentido de existir dessa mídia. Igrejas podem ter rádio? Até que sim... mas para que tantas? Já a figura do político concessionário de emissora de rádio ou TV é uma verdadeira excrescência. Não há argumento que justifique isso. Quem diminui a competitividade e desvaloriza o rádio como produto e negócio é a presença de tanta gente que pouco tem a ver com a comunicação. O rádio fica menos interessante. Menos útil para a sociedade. Mais vulgar.

A tecnologia de transmissão digital se avizinha mais rapidamente do que imaginamos. Esta seria uma boa hora para se discutir amplamente todas essas questões. No caso do rádio AM, a constante e acelerada queda de público e a fuga de emissoras que estão sendo clonadas para o FM deixam a impressão de que as Ondas Médias estão naquela desesperadora situação do enfartado dentro da ambulância. A sobrevivência do paciente depende a essa altura mais do desempenho do motorista e das condições de trânsito do que do próprio doente.

Triste fim para um tipo de mídia que durante pelo menos 30 anos foi o meio de comunicação mais importante e influente no país. É torcer pela sobrevivência das Ondas Médias. Com o AM, de alguma maneira, morreria um pouco da memória de cada um de nós.

(*) Diretor da PUC-TV/ em Minas (Publicado em www.observatoriodaimprensa.com.br)


O FRACASSO DAS REDES
Rádio, com R de regional

Judson Almeida (*)

Já está mais do que comprovado que as redes de rádio não apresentam resultado tão satisfatório como se imaginava há algum tempo. Trabalhei numa emissora em que três tentativas de se implantar rede foram mal sucedidas. A grande característica do rádio é está perto do povo, falar de seus problemas, das notícias locais. O ouvinte quer ligar, opinar, pedir música, ouvir seu nome no rádio; quer saber o que acontece na cidade, na região, reclamar dos problemas que afligem a comunidade local. Quer participar das promoções, ir à rádio buscar o brinde e conhecer o locutor, e ver se ele é mesmo como imagina a partir da voz, que é bonita, feia etc.

Esse ouvinte não está interessado em saber pelo rádio, por exemplo, o que está acontecendo em São Paulo ou no Rio de Janeiro, a não ser que seja notícia de repercussão nacional, ou que vá influenciar a vida de todo o país. Não lhe interessa ouvir no rádio o anuncio do "show de Zezé de Camargo e Luciano que acontece hoje no Olímpia ou no Canecão. Para o ouvinte de rádio é mais interessante "a seresta no bar de seu João, sábado á noite", e ele vai ligar para a rádio para concorrer ao ingresso. Quando um cantor famoso chega à cidade quem é fã quer ir à porta da rádio com uma faixa e uma carta onde está escrito "eu te amo" cinco mil vezes, na tentativa de conseguir um autógrafo. As promoções do tipo "visitar o camarim de fulano de tal" são imbatíveis.

Até as características musicais mudam de região para região. O Brasil tem uma variedade imensa de costumes e manifestações culturais. É um erro tremendo tentar padronizar a programação de uma rádio apenas pelo que se toca ou se fala no Rio e em São Paulo, ou simplesmente o que está fazendo sucesso na novela. Claro que isso é da maior importância, mas o ouvinte de rádio, principalmente de cidades do interior, gosta de ouvir também músicas e artistas regionais

Regionalização e boas estratégias

Vou citar um exemplo. A rádio em que trabalhava certa vez tornou-se afiliada de uma rede que estava crescendo muito no país. Á noite, um locutor de voz grave, bonita, fazia um programa romântico de derreter corações, com traduções, poemas, mensagens etc. Na concorrente, um locutor com uma voz não tão bonita, sem um mínimo de romantismo e, digamos, talento para o rádio (sim, para fazer rádio é preciso também talento) fazia um programa interativo, com recadinhos, sorteio de cortesias para motéis etc., coisa muito simples. Resultado: tomávamos um banho de audiência.

Senhores, o segredo do rádio é estar perto do ouvinte, respeitar as peculiaridades e características regionais. Uma programação via satélite é fria, distante. Em capitais até que funcionam para um determinado público. Mas para o interior as redes são um prejuízo sem tamanho. Acho que a implantação de uma rede está mais ligada à má administração da emissora do que à tentativa de diminuir custos ou conquistar audiência. O crescimento das rádios comunitárias é reflexo da necessidade de uma maior regionalização da comunicação. Não é à toa que grandes redes de TV estão tentando regionalizar cada vez mais sua programação.

Antigamente, para uma emissora, a grande vantagem de ser afiliada a uma rede era associar seu nome a uma grande marca, já consolidada nacionalmente. Hoje, com a Internet, sua emissora se transforma em grande marca. A coisa se inverteu. Há rádios com boa audiência na Internet, sem precisarem estar afiliadas a uma rede nacional.

Creio que o futuro das rádios em rede é incerto. A regionalização e boas estratégias para atrair audiência são a melhor saída para que seja contido o avanço desordenado das rádios comunitárias e para se montar uma rádio lucrativa, de sucesso e representativa junto á comunidade.

(*) Radialista, produtor e apresentador de telejornal e estudante de Comunicação Social da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (publicado em www.observatoriodaimprensa.com.br)


BBC - Não só para inglês ver

Com a queda de 3 milhões de ouvintes na rádio do World Service da BBC, após anos de crescimento, a estatal britânica planeja investir em seu canal de TV de notícias global BBC World, expandindo a presença da Grã-Bretanha no mundo. Em termos de agilidade e impacto, a reputação do canal está aquém da rival CNN.

Segundo The Guardian [22/7/02], o canal BBC World não tem apresentado bom desempenho financeiro. Do segundo semestre de 2001 para cá foram registrados mais de R$ 70 milhões de prejuízo (£ 15,3 milhões). A solução que o subsecretário de Relações Exteriores, Dennis MacShane, responsável pela verba do World Service, está buscando é unificar o canal com o noticioso doméstico, BBC News 24. "É absurdo que o News 24 seja financiado com impostos, enquanto o BBC World tem de se manter com publicidade. Precisamos ver como eles poderiam se juntar."

Pelas leis atuais, a união não é permitida. O Ministério de Relações exteriores cederá £ 180 milhões ao World Service nos próximos três anos, um adicional de £ 48 milhões. Destes, £ 8 milhões estão reservados para transmissões em países árabes e no Afeganistão, além da expansão na África, onde a emissora tem verificado aumento de audiência.

Se os planos da BBC se realizarem, o canal será incluído em nova divisão de "jornalismo global" comandada pelo atual diretor do World Service, Mark Byford. Ele disse que sua maior prioridade é fazer a TV mundial britânica parar de dar prejuízo até 2006. Sobre a possibilidade de se criar programação em vários idiomas, Byford acenou negativamente: "No passado, tivemos serviços de TV em árabe e hindi, mas não funcionaram. Tudo é possível, mas custa dinheiro." (matéria publicada no sítio www.observatoriodaimprensa.com.br) 

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